O CONSCIENTE, A ANESTESIA E A REVELAÇÃO DO INCONSCIENTE EM UM ÚNICO DIA
Uma crônica de Cao Benassi
Vivendo num país, que igual a muitos outros, privilegia a torpeza, a debilidade e a imoralidade, no qual o porco é lavado, perfumado, enfeitado e colocado no palácio, crendo que o tal suinídeo iria virar um rei, o que se testemunha, é a transformação do palácio num chiqueiro.
Infelizmente, todo mundo já sentiu o mal cheiro das cagadas do ronca-e-fuça, porém poucos são os que admitem que acreditar na farsa cuidadosamente elaborada pelo reizinho mandão, delicadamente intitulado “O-ovo-que-tudo-vê”, e seus outros 10 comparsas, a maioria preferem fazer a egípcia e dizer que o fedor exalado do chiqueirácio (mistura de chiqueiro com palácio, no qual se espoja o cachaço-grulhador), é o mais fino eou de toilette.
A lama de odor mal cheiroso se espalha por todo lado. Por onde se anda, não há ou quase não há, lugar que a pútrido chorume não tenha chegado. Economia não há: a cada dia, um novo aumento de impostos, que não cobre a gastança desenfreada. Ah, um detalhe importante, gasta-se muito e gasta-se mal.
Enquanto o mentiroso suinídeo bravateia por paragens francófonas, afirmando que não se importa com o que gasta com seu tourzinho estrangeiriço, seu poste, o Taxade, que não serve nem para a sacrossanta excrescência canídea, fala que se não taxar, o país irá quebrar. Bom, amiguinho, ele, o poste, deveria falar isso para a Deslumbrada da República Brazuelana.
E por falar em Brazuela, foi-se a liberdade de imprensa. Bem, a gente, que tem pelo menos dois neurônios na cabeça, já sabia que ia dar nisso, só as cavalgaduras estercorárias globais, bandais, recordais e toda corja da mass mídia, é que sabia, mas ignorava, enquanto o coro comia nos de lá, mas até eles, os de cá, já despertam para o fato de que o pau-que-deu-em-Chico, está comendo no Francisco.
Você, amiguinho leitor, deve ter eriçado até os pelos do cesso por eu estar falando do status quo do sistema, do tal establishment, e se isso aconteceu e pensou “um esse aí é bolsonarista”, te adianto que sou maior e mais inteligente que isso e digo ainda: se você pensa com base no "nós contra eles", está perdendo seu tempo lendo essas parcas linhas.
Mas se a sua preocupação é “o que isso tem a ver com o título dessa crônica", eu te respondo: nada e tudo, e não pense “ele pirou"! Calma, amiguinho, crônica é um tipo de texto bastante flexível, que aborda assuntos do dia-a-dia. Assim, esse meu texto que vai tratar do assunto que o nomeia, perpassa a zona que estamos vivendo, a latrina fétida que se tornou nosso país e a minha realidade nestes dias de molho do pós-cirurgia.
Pois bem, tenho problemas de coluna que no ano passado me levaram a um procedimento para infiltração, descompressão e cauterização. Os efeitos duraram mais de um ano. E eis que tive os sintomas dolorosos novamente e o meu ortopedista, lindo de viver, me recomendou realizar o procedimento de novo, dessa vez, na cervical e na lombossacral.
Transitada em julgado a papelada no plano de saúde (isso foi só um trocadilho com as canetadas autoritárias do A-Lei-Xandre e seus comparsas), o procedimento foi marcado. Manusca, minha mana, tomou um Itamarati e viajou mil e cinco quilômetros aproximadamente, para estar comigo nos dias de repouso dos procedimentos.
Abraços e saudades aliviadas à parte, na terça-feira, dia dez de junho de dois mil e vinte e cinco, fiquei um dia todo sem comer praticamente nada, raspei a barba que não tirava a anos, e às quinze horas, rumamos, eu e Manusca, para o hospital no qual o procedimento seria realizado.
Lá chegando, restou aguardar e tomar chá de cadeira misturado com a típica ansiedade de autista. Por volta das dezessete horas e quantos minutos eu não sei, entrei no centro cirúrgico.
Alguns profissionais, por eu portar um colar, de quebra cabeças, que fiz de pulseira, conversaram comigo como se eu fosse uma criança. Eles não entendem que o autismo é um espectro e quem está no nível 1 de suporte como eu, tem o intelecto preservado. Me deu vontade de falar: “eu sou um adulto de quarenta e cinco anos, autista nível 1, com intelecto preservado: sou doutor em estudos de linguagem”!
Dessa vez, o centro cirúrgico não estava totalmente preparado. Vi vários profissionais chegarem com diversas caixas que eram depositadas em pontos específicos da sala. A enfermeira começou a me preparar para receber a sedação. Ficou batendo com os dedos na minha mão para ver se as veias subiam e nada. Obviamente, eu comecei a ficar nervoso com isso. Daí o anestesista assumiu e pegou uma na dobra do cotovelo.
Virado de bruços, o anestesista me questionou se eu estava sentindo “um soninho". Disse que não e ele fez algumas coisas que eu não vi. Apenas ouvi-lo dizer: “eu não estou tendo sucesso aqui”. Esta foi a última coisa que me recordo antes da sedação. Depois, somente o que aconteceu quando eu voltei dela aproximadamente às dezenove horas e lá vai tanto…
Quando voltei, eu não estava em meu estado normal de consciência, se é que o tenho. As vagas memórias que tenho do retorno, me dão conta que eu havia esquecido que falava oralmente: eu retornei falando em Libras. Manusca filmou algumas coisas.
Ao ver o filme, constatei que acordei perguntando em língua de sinais, onde estava a professora Sebastiana, minha amiga, irmã, confidente e “cumadi”. Conversando com Manusca e com a enfermeira, me dei conta que reclamei, em Libras, de ter perdido a colação de grau dos meus alunos do Letras-Libras. As filmagens também registraram eu cantando musiquinhas besterolentas.
Ainda sobre as revelações do meu inconsciente, e já vou adiantar, sinto muito meu curioso amiguinho leitor, não houve nenhum segredo revelado, afinal de contas, não tenho nada mais a esconder, então perguntei como tinha ido parar no hospital; por que estava ali; quem tinha me levado e por quanto tempo havia apagado, sem acreditar na resposta de que eram apenas algumas horas.
Já próximo das vinte e três horas, encontrei os meus afilhados Rique e Junior que me levaram até minha casa, onde me dei conta de que haviam seis curativos nas minhas costas. No dia seguinte, acordei com um pouco de dor nos locais das incisões. Ao levantar os curativos e Manusca fotografá-los a meu pedido, consegui contar um total de dezoito furos, sendo quinze na região da coluna lombossacral.
Tô igual peneira! Não bastasse os furos semanais das agulhadas que levam o imunobiológico para meu corpinho, agora esses: confesso, tô com medo de beber água e vazar pelos buracos.
Brincadeira à parte, ficarei alguns dias de molho e te confesso: já estou de saco cheio. Os dias se tornaram longos e enfadonhos, ainda mais com todo o fedor que é exalado do planalto, com um dos comparsas do grupo dos onze, dizendo que todos admiram o regime chinês e outro admitindo que há censura na Brazuela, coisa proibida pela nossa constituição.
Então né, brazuelou!
Mesmo que eu não assista TV, e só busque coisas elevadas para ver, tais como vídeos da professora e filósofa brasileira Lúcia Helena Galvão, o chorume da latrina Brazuelana escorre por todos os buracos do ciberespaço e penetram os nossos.
Misericruzencredo!
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