HAMSA OU KALAHAMSA: EU ACHO QUE VI UM...

 Uma crônica de Cao Benassi 

- E aí, como foi com no terceiro semestre? 

- Ah, cumadi Tiana… cansado do Letras-Libras! 

- Hum, lá vem! Por quê?

- Hum… Letras-Libras é ninho que só dá pato feio! Queria ir dar aulas no Português matutino ou na Psicologia… ah, quanta gente linda!

- Não fala assim, cumpadi! Vai me dizer que só viu pato feio, lá?!

- Ah… acho que vi um…

- Professora Sebastiana, tem uma aluna que quer falar com a senhora!

- Avisa à ela, que pode entrar! 

- Cumadi Didi,  depois a gente se fala mais! Vou embora… Tchau!

E assim, passam as horas e mudam-se os dias… passam os dias e mudam as estações… passam as estações e muda o calendário!

- E aí, como foi lá no quarto semestre? Melhor?!

- Sim! Já conheço a turma! 

- Quando a gente conhece a turma e tem mais intimidade, o trabalho fica mais fácil!

- Sim, fato! Mas…

- Mas… o quê? Lá vem!

- Mudou o semestre, mas a minha opinião, não!

- Hum… o Letras-Libras é um ninho… um  ninho de que mesmo?!

- De-pato-feio, cumadi!

- Ai… cumpadi, era uma pergunta retórica!

- E eu sempre entendendo ao pé-da-letra, né… isso me faz sentir mal, às vezes, sabia!

- Cumpadi, você é autista… eu já falei! (Risos!) Zanga não?!

- tudo bem! Devo ser mesmo… 

Em sala de aula, enquanto passam as horas e mudam-se os dias… passam os dias e mudam-se as estações… passam as estações e muda o calendário…

- Então… pessoal, é importantíssimo que vocês fixem o conceito de língua presente no pensamento saussuriano… por isto, eu vou repeti-lo durante todo o semestre! Nesta disciplina, que é de variação linguística da Libras, precisamos iniciar nossos estudos, partindo de um paradigma do pensamento linguístico, que em nosso caso, é o estruturalista. Vamos lá, como Saussure define a língua? 

E alguns minutos se passam!

- Bom… pessoas, para Saussure, a língua é um sistema composto de estruturas e essas, de elementos que estabelecem relações solidárias entre si para compor um todo que faça sentido. 

- Profundo profe!

- Sim, muito! Isto está no texto… vocês leram?

E novamente, mais alguns minutos se passam! Como costumo fazer quando o clima fica pesado em sala de aula, divaguei contando aos meus alunos alguma de minhas muitas experiências peculiares na docência, e eis que me surge uma questão que me deixa um tanto quanto desconcertado:

- Professor, posso te fazer uma pergunta?

- Faça duas!

- Profe, você namoraria a uma aluno ou, talvez, um aluno?

- Não! Definitivamente, não!

- Uai, por que não? 

- Tenho receio de haver confusão entre o Claudio-professor e o Claudio-namorado. Talvez, depois de formado… quem sabe né?!

- É que mandaram te perguntar! Então… aí, pessoal… há esperança!

- Bem… pessoal, voltando às vacas magras…

E depois de mudarem as horas…

- E aí… como foi a aula, cumpadi?

- Foi massa! Muito realizadora… como diz minha professora de flauta, foi “a aula de 1 milhão de dólares”!

- Nossa, quem diria… hein?! Brincadeira… eu sei que você gosta dessa turma!

- Sim, amoooooo! Uma das melhores que já tive!

- Hum… quem te viu, quem te vê! Algum motivo especial?! 

- Sei lá… talvez!

- Hum… conte-me mais! Vai, desembucha… não me esconda nada: algum pato feio virou cisne?! (Risos!)

- Ah… eu não sei fazer metáforas, nem sou bom com ironias, mas… acho que o “pato” não é feio…

- Então…

- O “pato” é casado!

- Xiiiii, cumpadi!

E assim, passam as horas e mudam-se os dias… passam os dias e mudam-se as estações… passam as estações e o calendário muda várias vezes!

- Cumadi… Ai, me desculpe… eu e essa minha mania de chegar e ir entrando… não sabia que você estava atendendo a um aluno! 

- A relaxa! Sente-se aí! Não é um atendimento pedagógico particular! Só estou dando algumas orientações sobre o meu projeto de pesquisa. 

- Gratidão, cumadi! É satisfatório estar na companhia de gente bonita e inteligente!

E alguns minutos depois:

- Gente… o que aconteceu com este menino? Como ele está mais lindo!

- Se separou! 

- Ah… está explicado!

- Engraçado, né: normalmente as pessoas quando se casam, acabam ficando acomodadas… aí já viu! 

- É o maldito lugar de conforto, né! É cômodo, é gostoso, é confortável e não exige nada mais do que cumprir a lei do menor esforço! 

- A separação, às vezes, é uma grande bênção!

- Principalmente, quando o relacionamento faz mal aos relacionantes, né?!

- Exatamente!

- Seja o que este menino esteja fazendo, ele deve continuar… ele está muito mais lindo agora!

- Olha… para quem só via pato feio naquela turma… agora viu um cisne nascer, foi?!… Oh, cumpadi!

E depois de passarem alguns dias…

- Meu Deus, como ele está mais lindo! Hamsa ou kalahamsa… quem dera fosse ele o pássaro da minha eterna felicidade!


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