TRINTA DIAS DE TODAS AS MANHÃS DO MUNDO

 Para Gabriel

Uma crônica de Cao Benassi 

Em relação ao tempo, a nossa percepção sempre nos faz pensar que ele, o tempo, passa rápido demais. Essa percepção é bastante distorcida e não é sentida apenas por nós, pois na verdade, o tempo hoje passa da mesma forma como passava em tempos imemoriais. Em seu tempo, o filósofo romano Marco Aurélio documentou que seus contemporâneos reclamavam de não terem tempo. Isso posto, ressalto que faz um mês, trinta dias de tempo passado, cuja medida parece ter perdido o sentido para nós. Eu me pego olhando para você, aqui, do meu lado na nossa cama, vendo o seu rosto que é o sol da minha manhã, e tenho a sensação de que todas as manhãs do mundo se concentraram nesse nosso primeiro mês. Coloco-me aos seus pés e depois em suas mãos e você me abraça. Sinto a minha alma se iluminar. É como se os meus olhos soubessem, mesmo antes de mim, que eu já te esperava.

Como mágica, sinto que nesses trinta primeiros dias, nós vivemos todas as manhãs do nosso mundo, e posso ver pelo brilho exuberante dos seus olhos, que você compartilha comigo, desta mesma percepção. E assim, não temos a pressa dos casais que se conheceram agora. Não temos a ansiedade daqueles que se arvoram no esplêndido início de um enlace, como quem precisa viver tudo num único momento, evidenciando o inevitável e catastrófico fim. É como se a nossa história já estivesse escrita, e nós estivéssemos vivendo um roteiro perfeito. Lembro do nosso primeiro beijo, do desejo reprimido, do medo contido, do futuro incerto e de como, depois dele, tudo se encaixou, se acalmou. Parecia que o mundo todo havia parado para testemunhar esse nosso momento. Agora, cada toque, cada abraço, cada risada, é a certeza de que escolhemos o caminho certo.

Aprendemos juntos que o amor não precisa de grandes gestos para ser grandioso, pelo contrário, ele se torna gigantesco nos pequenos detalhes do cotidiano. Ele se torna majestoso em cada pequena coisa, em cada pequena atitude, em cada pequeno aceno da vida. Em cada pétala de flor, em cada café da manhã, em cada verso, em cada amanhecer, em cada coisinha do ordinário, tornamos nosso amor imponente, extraordinário. Percebo isso, na forma como você, carinhosamente, me estende a sua mão enquanto caminhamos. No brilho exuberante do seu olhar, que reflete a felicidade de uma alma que ama. No seu lindo e suave sorriso que me desarma, não só depois de um dia cansativo de trabalho, mas também nas vezes que meu autismo me cala. Na forma como você me olha, como se só existisse uma única pessoa no mundo, eu! E, assim, nesses trinta dias de todas as manhãs do mundo, a cada minuto ao seu lado descobri que, com você, não temo ser quem eu sou.

Um mês, trinta dias, setecentas e vinte horas e nós já temos a nossa alma, nossas realizações internas e o nosso lugar favorito para estar, que é um ao lado do outro. Um mês, trinta dias, setecentas e vinte horas, dois milhões, quinhentos e noventa e dois mil segundos e eu já sinto que te conheço desde sempre. É um amor que ainda está nascendo, no entanto, parece já termos uma vida inteira de memórias, de histórias, de aprendizados e de uma vida vivida com presença, com plenitude e com verdade. E o melhor dessa breve e longa história, é que eu sei que a sua alma compartilha com minha a essência de tudo que o está expresso nestas linhas, tudo o que cabe nestas palavras, tudo o que preenche esses poucos parágrafos, e mais ainda, tudo o que tanto essas linhas, essas palavras e esses parágrafos deixam escapar quer por serem insuficientes, quer por serem ineficazes na expressão. Eu sei que isso pode parecer clichê, mas, no fundo, a verdade é que com você, até o clichê se veste de uma nova-roupa-nova.

É doce te acordar com a bandeja de café da manhã nas mãos e te desejar bom dia com um beijo. É lindo te ver arrumar o "gostoso cabelinho", que parece bailar entre seus dedos inquietos. É suave sentir o perfume do seu corpo que em toda manhã me leva a imaginar que, se um paraíso existe, ele tem o seu cheiro. É belo ver o brilho dos teus olhos quando você me olha com seus olhares que me dizem tudo aquilo que nenhuma palavra pode ou é capaz de dizer. E eu sei, só são trinta dias, mas são trinta dias que valem toda uma vida, por isso posso dizer com uma certeza que me preenche, que esse é o primeiro de muitos, de infindos outros meses, outros trinta dias, outras setecentas e vinte horas, outros  dois milhões, quinhentos e noventa e dois mil segundos do nosso amor, afinal de contas, esse é  o começo de todas as manhãs do mundo, e eu mal posso esperar para viver cada uma delas com você.