PESAR, ANO 1, N. 11, NOV. 2024


Estamos no décimo primeiro mês do ano. Já é novembro, que tem o dígito 11, que na numerologia é considerado um número mestre. A palavra novembro tem origem na palavra latina novem que significa nove. O nome deste mês tem essa referência, pois no antigo calendário romano, ele ocupava a nona posição.
No número passado, comentamos um pouco sobre a frase “uma mente mente guiada pelos desejos e pelas emoções é uma prisão", e neste, vamos continuar refletindo sobre este tema. Quando não conhecemos o nosso corpo mental concreto, ou seja, a nossa mente que é caracterizada pelos pensamentos e pelos desejos, tendemos a ser manipulados por eles, e nem nos damos conta disso!
Neste sentido, vamos vivendo para satisfazer os desejos, que manipulam o pensamentos e mobilizam emoções, sentimentos e energia, para transformar uma determinada forma mental em realidade.
Para exemplificar o que acabamos de afirmar, um fato muito corriqueiro está ligado aos modismos e aos comportamentos de massa. E, como já afirmou Guattari, a cultura e o capital conhecem bem os mecanismos disso e os utilizam magistralmente.
Quando uma fabricante de celulares, a título de exemplificação, quer lançar uma nova versão de um produto já consagrado, meses antes do lançamento, ela começa a soltar teasers, que nada mais é que estratégia de marketing que cria no potencial consumidor, o desejo de ter aquele produto.
Assim, quando o produto é de fato lançado, com o desejo já fabricado, o potencial comprador fará o que estiver ao seu alcance para tornar realidade a posse do bem, em muitas vezes, não importando sequer os meios para tal.
Neste caso, desejo será o elemento, o aspecto da mente que atuará fazendo com que, por meio do pensamento, crie o argumento que justifique a investida no emocional e no energético, para que o desejo seja realizado.
Muitas vezes, todo esse processo se dá, não pela necessidade real, mas por uma mórbida exigência do mental concreto que faz o sujeito se sentir excluído ou menorizado se não possuir o objeto da moda ou o comportamento de massa.
A resistência, a má resistência, se apresentará como argumentos que justificarão o querer ser e o possuir. A mente será astuta e fará com que a resistência se disfarce nas crenças do sujeito, fazendo com que ele acredite que o não ser e o não possuir, na perspectiva do desejo, é o fim de uma vida social aceitável.   
Por isso, desenvolver desejos a partir das coisas que giram na moda ou de aspectos que estão presentes nos comportamentos de massa, é muito perigoso: todas as vezes que as massas se arvoraram em direção de algo, o tempo provou que elas estavam erradas.
Vamos lembrar o clássico de Galileu Galilei que afirmava que a terra possuía uma forma geoidal, e todos afirmavam que ela era plana, com um abismo na borda, onde residia um feroz monstro que apanhava os incautos: a história provou que o correto aí, era o tal Galilei.
Vale aqui lembrar um conselho da grande professora de filosofia Lúcia Helena Galvão, que diz: "melhor salvar-se sozinho, do que se condenar com as massas"! Esta máxima sintetiza muito bem o que afirmamos anteriormente.
Mas como e o que fazer para controlar pensamentos e desejos, sentimentos e emoções? Bom, essa é uma tarefa extremamente difícil, talvez uma das mais difíceis para o humano, porém não é impossível.
O primeiro passo, sem dúvida alguma, é se comprometer com o autoconhecimento: sem se conhecer é impossível desenvolver qualquer controle. O processo é longo e exige muita disciplina, além de renúncia daquilo que pensamos ser o próprio eu.
É necessário, primeiramente, tomar consciência de que nosso mental precisa ser guiada pelo nosso Eu Verdadeiro e não pelos desejos e pelas emoções. Depois, é preciso se comprometer com a realização disso. Em seguida, empreender o trabalho de descida à consciência para se autoconhecer.
Este processo, segundo a antiga arte da alquimia, se divide em três estágios, sendo o primeiro deles o mais difícil. O nigredo alquímico, primeiro estágio do trabalho de transmutação do eu, consiste em descer à consciência para a limpeza da "borra” deixada em nossa personalidade pela cultura, compreendida em todos os aspectos que a compõe.
Este processo pode ser perigoso e o buscador pode ser tragado pela própria consciência, não conseguindo daí sair. Isto pode acontecer, pois neste processo, o buscador verá dentro de si, em potencial, todo o mal do mundo.
Porém se o buscador tiver o suporte necessário, ele persistirá, abrirá todas as gavetas e todos os porões e iluminará todos os becos da sua consciência. Vale ressaltar, que para isso acontecer, o buscador ao descer à consciência, que nada mais é do que observá-la, o buscador não poderá fazer nenhum juízo de valor sobre
as autopercepções que terá, ou seja, a auto-observação deverá ser sempre neutra.
Antes da etapa seguinte, que é o albedo, acontece o estágio intermediário que é chamado de cauda pavonis. Nele, o buscador verá que para cada debilidade, cada defeito que tem, existe uma virtude.
Assim, o buscador compreenderá que tudo tem dois pólos. Neste sentido, para exemplificar o que foi dito, normalmente sentimos medo e isso, nem sempre, é algo ruim: o medo pode preservar a nossa vida.
Mas quando o medo significa uma placa de pare, ao invés de significar siga com atenção, isto se torna um problema. Porém na outra extremidade do medo está a coragem: basta conscientização e exercício para que o buscador vá para a extremidade na qual está a coragem.
Quando isto acontece, o buscador passa para o albedo que é o estágio no qual todas as prisões constituídas pelas culturas sobre ele, caem e finalmente livre, o discípulo empreenderá as práticas virtuosas que o levará ao próximo estágio intermediário que é o citrinitas, o estágio do início do amadurecimento.
Após este estágio, o buscador finalmente estará no rubedo, fase na qual as renúncias realizadas farão com que ele goze do domínio do Verdadeiro Eu, nova consciência que cresceu no processo e viverá livre das prisões do desejo da personalidade.
Por fim, vale ressaltar que o processo delibertação da mente do domínio dos desejos e das emoções, não é simples, tampouco atrativo para as massas: poucos são aqueles que estão prontos para empreender este trabalho.
Infelizmente, as massas ainda estão entretidas com o brincar de existir e se deixa moldar pelos movimentos do querer ser e do possuir, enquanto o Pai tristemente conserta o brinquedo a cada vez que ele quebra.
A má resistência, como já foi dito anteriormente, se apresentará disfarçada forçando o buscador à permanência nas prisões do desejo que distorce a realidade. É preciso tomar consciência disso e impor a má resistência, uma boa resistência que auxilie o buscador na libertação de suas prisões. 

Um texto de Cao Benassi

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