PESAR, ANO 1, N. 7, JUL. 2024
Ano 1, n. 7, julho de 2024
Estamos no sétimo mês do ano. Em nossa caminhada, mantendo o nosso compromisso de escrever um texto filosófico por mês, já produzimos seis textos, nos quais abordamos, principalmente, assuntos relacionados aos nossos corpos etéreo-físico e energético e a resistência relacionada a eles.
Embora seja muito difícil abordar somente uma porção dos corpos que nos constituem, nossa ênfase nos textos anteriores foi direcionada para esses corpos. A partir de agora, nossa atenção recairá sobre os corpos astral e mental concreto, considerando que poderemos ainda perpassar os corpos abordados anteriormente.
Como gosto de apresentar a etimologia das principais palavras ou conceitos que serão trabalhados no texto, vamos à etimologia da palavra julho. Pois bem, julho é o sétimo mês do calendário gregoriano e tem 31 dias. Esse mês recebeu esse nome em homenagem ao imperador romano Júlio César, por ocasião do seu nascimento.
Como dissemos anteriormente, vamos abordar, a partir de agora, os corpos mais sutis que constituem a nossa manifestação. O corpo etéreo-físico é facilmente reconhecido por nós, pois podemos vê-lo e tocá-lo. O corpo energético, apesar de não ser visível ou tateável, podemos reconhecê-lo por meio dos movimentos que são os traços perceptíveis de sua existência.
Igualmente os corpos astral e mental concreto, não são passíveis de serem vistos ou tocados, porém a sua existência é inegável, pois desenvolvemos sentimentos (um dos elemento que caracteriza o corpo astral ou emocional) e pensamentos (um dos elementos que caracteriza o corpo mental concreto).
Diferentemente dos dois corpos que abordamos inicialmente, que são mais fáceis de serem reconhecidos, pois são os primeiros a serem atualizados na existência e os mais antigos em desenvolvimento, o que implica em um certo grau de domínio, o nosso astral e o nosso mental concreto (corpos por nós já desenvolvidos), na prática ainda são totalmente desconhecidos por nós.
Como esse assunto é bastante complexo, iremos tentar abordar primeiramente o corpo astral, e na sequência, o corpo mental concreto. O corpo astral ou emocional, como gosto ou melhor, como prefiro, é uma camada, por assim dizer, que nos constitui, sendo seus principais aspectos, as emoções e os sentimentos.
Assim, como não podemos ver ou tocar o alento, noutras palavras, a vitalidade que constitui o corpo energético ou prânico, não podemos ver ou tocar nossos sentimentos ou emoções, mas sabemos que eles existem em nós. No aspecto objetal, se nos ferimos, sentimos dor. Já no subjetivo, se algo acontece diferente daquilo que esperamos, por exemplo, podemos nos entristecer.
Essas características são próprias desse nosso corpo chamado astral ou como já mencionei anteriormente, emocional. Esse corpo, nós compartilhamos com os animais.Trocando em Miúdos, os animais também desenvolvem sentimentos e emoções. Por isso, a consciência astral ou emocional é compartilhada por animais e humanos.
Porém um aspecto nos distingue dos animais. Se por um lado, os animais desenvolvem emoções e vislumbram sentimentos com base numa consciência instintiva, os humanos, por outro, os desenvolvem com base numa consciência mental ou pelo menos, deveriam.
Com base na nossa mente, podemos conhecer o conjunto de emoções e sentimentos que formam o que chamamos de corpo astral ou emocional, conhecendo, podemos dominá-lo.
Por falar em dominar nosso emocional, convido você a dar uma pausa nesta leitura e refletir sobre a seguinte questão: você conhece suas emoções e sentimentos a ponto de dominá-los ou você é por eles dominado?
Agora que você já fez a sua reflexão sobre a pergunta que fizemos, você talvez já tenha a dimensão do quão difícil é responder uma questão como essa, que aparentemente é simples.
No entanto, responder a esta questão implica em uma certa profundidade sobre a nossa própria identidade. Infelizmente, o nosso tempo não nos propicia ferramentas para que possamos nos conhecer, a fim de que possamos distinguir o que são as nossas emoções e os nossos sentimentos e o que são as emoções e os sentimentos de massa, que nos chegam por meio dos recursos midiáticos e dos aparelhos de estado.
Você deve estar surpreso com a afirmação que fizemos no parágrafo anterior. Infelizmente, quando não refletimos sobre quem somos, quando não pensamos sobre quem queremos ser, somos pensados pelas massas.
Abro aqui um parêntese para explicar que temos pelo menos três atributos da consciência, sendo eles, identidade, percepção e manifestação. A identidade é o aspecto que irei abordar aqui. Em relação à identidade, o despertar da autoconsciência gera as identificações, que também podem ser chamadas de apego ou egocentrismo.
Em relação à percepção, a partir de um campo mórfico individual, no qual os pensamentos, os sentimentos e reações se individualizam e particularizam, é gerado um campo de respiração próprio e auto isolado. Podemos chamar esse processo de ilusão, ou ainda, projeção. É dele que surge a consciência-eu.
Relacionado a manifestação, a auto consciência gera um complexo conjunto de comportamentos individualizados e auto-induzidos, que com o passar do tempo vão sendo naturalizados e passam a ser automáticos. Esses automatismos e repetições fazem surgir a alma natural.
Quando nossa consciência desperta, imediatamente ela se identifica consigo mesma. A partir daí, ela atualizará nosso corpo etéreo-físico, que em termos de desenvolvimento, é o nosso corpo mais antigo. Na sequência, o corpo energético é atualizado. Seguidamente, o corpo emocional é atualizado e então, o nosso mental começa a ser atualizado e (re)desenvolvido.
Assim, é natural que nossas emoções e sentimentos nos dominem, porém isso não significa dizer que o domínio deles, nos conduzirá à primavera da natureza humana. Muito pelo contrário, seremos levados constantemente ao inverno humano para que possamos despertar e fazer o trabalho interno de reconhecimento das emoções e sentimentos com a finalidade de dominá-los.
Isso pode parecer, para alguns, uma tarefa simples de realizar. Se a concebermos superficialmente, realmente será fácil. Mas se formos realizar a tarefa do reconhecimento, de forma mais profunda, com comprometimento e com lealdade para com a nossa essência, ela por certo se tornará uma atividade extremamente complexa e difícil de ser realizada,
Além das características apontadas anteriormente, podemos afirmar que ao nos comprometemos com o reconhecimento e o domínio das nossas emoções e sentimentos, a má resistência atuará de forma contundente para manter o status das coisas em nossos corpos.
Isso porquê não somos, ao longo da nossa vida, instruídos a filtrar nossas emoções e sentimentos. Sequer nos é dito que podemos desenvolvê-los. Na verdade, na maioria das vezes, nos tornamos solo infértil para desenvolver emoções e sentimentos próprios.
Dessa forma, vamos enchendo nosso emocional de emoções e sentimentos que colhemos no meio. Com isso, vamos matando nosso potencial de criar. O Caibalion afirma que em tudo há dois gêneros, um que cria e outro que gera. Assim sendo, por preguiça ou incapacidade de criar emoções e sentimentos próprios, matamos nosso gênero criador e enchemos o nosso gênero gerador com sementes que buscamos fora de nós.
Vale lembrar da parábola do "ovo do cuco". O cuco é um pássaro que não constrói ninhos. Ele espera aves construtoras sairem do seu ninho e na sua ausência, põe seus ovos ali. A ave dona do ninho choca aos ovos do cuco e trata dos filhotes, mesmo eles sendo diferentes, maiores e mais fortes que os seus filhos, que obviamente serão jogados para fora do ninho.
Assim somos nós. Um exemplo que podemos dar aqui, é que em determinado momento, todo um segmento da sociedade passa a gostar ou a odiar uma determinada personalidade, simplesmente porquê alguém gostou ou deixou de gostar.
Isso é apenas um exemplo mais amplo. Num sentido mais restrito, no cotidiano, por exemplo, somos muito susceptíveis aos aspectos da vida exterior. Quando não temos um gênero criador forte e ativo, basta que alguém na nossa família, escola, trabalho ou igreja nos diga que "fulano" ou "bertano" não é afeito a nós, para que a gente coloque a nossa consciência nisso.
Não demora muito, estamos cheio de más emoções e maus sentimentos relacionados ao "fulano" ou ao "bertano". Basta um simples cumprimento não respondido, para julgarmos que o "leva-e-traz", como se diz em bom cuiabanês, tinha mesmo razão.
Desenvolver emoções ou sentimentos próprios demanda o trabalho interno de autopercepção e autoconhecimento. Olhar para uma dor não-física, para uma emoção, para um gosto, para um sentimento, e conseguir questioná-lo e avaliá-lo se ele é próprio ou não, definitivamente, não é algo fácil de se fazer.
Normalmente, deixamos a inércia, debilidade que é própria do corpo etéreo-físico nos vencer e é claro que o emocional vai amar a nossa apatia. Todo tipo de argumento e má resistência serão gerados pela nossa mente para justificar isso.
Não nos preocuparmos com a autonomia do nosso corpo emocional, é extremamente danoso, pois além de gerarmos emoções e sentimentos alheios, passamos também a alimentar esse corpo com "comida tóxica".
Sobre isso, no nosso próximo número, abordaremos então essa nossa morbidez de nos intoxicar com emoções e sentimentos de massa e de baixa vibração, que arrastam nossa consciência para baixo e não são fatores de soma para a nossa real essência.
Para finalizar, resta-nos deixar um conselho. Diz a filosofia que aquele que não pensa quem é, por certo é pensado pelas massas. Assim sendo, o único meio de escapar da massificação, que é um tipo de rolo compressor que esmaga a tudo que encontra pela frente, é conhecendo a nossa real essência.
Este texto foi produzido por Cao Benassi
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