FAZ DE CONTAS, AU-AU-BALANÇA-CABEÇA E GENTE DE DOIS NEURÔNIOS
Como no mês passado (junho de 2024, para quem lerá este projeto de crônica, em algum momento do futuro), eu escrevi um texto que tem lá seus traços de crônica, cujo título é "Infância, passarinhos à pilha e bilangos", cujo resultado muito me agradou, decidi, mensalmente, escrever e publicar em meu blog e site, um texto na mesma pegada. Passei o resto do mês, já que o primeiro texto foi publicado no dia 4, bem no início de junho, pensando sobre um tema.
Para este segundo texto, fiquei tentado a escrever, na mesma pegada, da minha infância para a realidade insólita, porquê não dizer, sórdida que vivemos e fazer uma discussão, articulada a partir de minha falta de uns parafusos ou talvez parafusos a mais, sobre a focaccia de vovó Nica, já falecida, cuja energia jamais me abandonará, logo, eu não sinto saudades dela, pois energia é coisa que não se desfaz e tendo o "fio" certo, a conexão é fácil e certeira.
Sendo a vida constituída de dois pólos, material-energético, o que morreu foi o material, o energético dela se integrou ao cosmo. Pois bem, seria muito legal, na crônica de Julho, falar sobre a tal focaccia, que para uma parte da família, os mais novos, mais progressistas, era tida como pizza, para os mais velhos, mais conservadores, não passava de uma torta. Assim, começaria nomeando o texto com o título "Pizza que parece torta que é, na verdade, focacia".
Mas o apoio quase maciço dos professores ao ocupante do Planalto, o movimento paredista dos professores e técnicos e a cusparada que levamos na cara, e ainda, a falta de bom senso daqueles que ainda insistem em ver o tal ocupante do Planalto como "um grande estadista" ou como um "eficiente e estratégico gestor", me fizeram mudar de ideia.
Grande, eficiente e estratégico estadista, só se for para os banqueiros, para os Batistas, para os demais grandes empreiteiros e empresários, enfim, para os companheiros da caterva. É difícil ouvir colegas dizendo que num futuro pleito ainda votariam nele e isso me fez mudar de ideia e deixar para me lambuzar nas lembranças das focaccias de vovó Nica, em agosto.
Pelo título deste texto e pelo exposto até o momento, você já deve ter percebido que assunto que vou abordar aqui, é outro e você está correto. Se você já eriçou até os pelos que margeiam a fulô, isso mesmo, a fulô, lembrando o linguajar caipiresco rondoniano, e bem que eu poderia ser mais explícito, sem sair deste dialeto caipira maravilhoso, e dizer, porquê não, do toba, porquê eu vou falar sim do Lula e vou descer o sarrafo, mas muita calma nessa hora, meu amiguinho.
Pra começar, deixa eu dizer para você, fulô arrepiada, que eu não voto já faz algum tempo. Quando percebi que a minha moral estava um pouquinho acima dos politiqueiros faccionados, isso mesmo, partidos políticos, na Tupiniquilândia, são tão somente facções, fui deixando de me trocar por umas míseras promessas e pelas toneladas de mentiras dessas ilustres bandidolências.
Hoje, já que superei a dualidade direita e esquerda e me posiciono acima das merdolentas e fétidas trincheiras partidárias, deixei de escolher entre os menos piores e digo que voltarei a votar, no dia em que, ao invés de termos as excressensíssimas bandidolências concorrendo aos "cargos públicos eletivos", no qual os ocupantes supostamente são "escolhidos pelo eleitorado", e tivermos pessoas do povo e povo com moral semelhante a minha, no mesmo nível ou superior. Menos é claro, nem um tostão, não aceito.
Há um certo tempo, quando eu era ainda uma criança, voltando aos brinquedos que faziam a minha alegria e a de minha irmã e primos, me lembro da época em que surgiram aqueles bonecos havaianos que mexiam a cintura, quando eram esfolegados. Não demorou muito tempo, surgiram alguns enfeites, que a gente usava como brinquedos, depois do tempo das vacas magras, é claro… já no tempo em que passamos a amarrar cachorro com linguiça!
Os tais enfeites tinham formato de bichinhos que balançavam a cabeça, quando a gente dava neles um peteleco. Aquilo, inicialmente era legalzinho, mas a gente se cansava rápido, afinal de contas, no fundo a gente sabia que os tais brinquedos, eram enfeites chatos pra caraleo. Mesmo assim, o poder do faz-de-contas-de-nossa-meninice era mesmo impressionante. Nos colocavámos a brincar com aqueles enfeites-brinquedos, e de brincadeirinha mesmo, a gente fingia se entreter com aquilo.
Com o passar do tempo, as brincadeiras foram ganhando novos contornos, para compensar a falsa-agradável ilusão e inegável-real chatice que os ditos au-au-balança-cabeça nos causavam. Lembro-me que a gente se punha em roda e no meio o tal brinquedo, dava um impulso giratório nele e onde ele parasse, a pessoa à frente tinha que petelecar a cabeça dele e fazer uma pergunta, do tipo "a fuluna gosta de mim" ou "eu vou me casar com o ciclano". Mesmo com essa nova forma de brincar com os pseudos-brinquedos, aquelas atividades eram bem insossas.
Hoje, do alto dos meus 44 anos, sendo que desses, quase 20, já dedicados à algum tipo de atividade na minha tão querida, porém maltratada UFMT, terra na qual nasci como ser pensante, mais precisamente, 10 anos como docente, me ponho a refletir sobre o quanto somos au-au-balança-cabeça e quanto essa brincadeira de fazer-de-conta que está tudo bem e que no atual governo podemos fazer a greve que não fizemos no anterior porquê estávamos resistindo, pode ser prejudicial e acabar por enterrar de vez a tal "universidade pública de qualidade".
Em 2007, quando entrei no curso de Licenciatura em Música, me lembro que na primeira, das quatro disciplinas de História da Música no Ocidente, no primeiro dia de aula, numa segunda-feira, o professor Habel di Anjos, meu grande Mestre, sentou-se na frente da turma, pressionou os pés no chão, repousou as mãos sobre as pernas, acomodando o dorso de uma, sobre a palma da outra e após nos cumprimentar e se apresentar, disse algo que achei exagerado, porém jamais esqueci.
Disse o grande Mestre: "vocês que estão chegando agora, aproveitem ao máximo enquanto a universidade não tem uma catraca na porta e a entrada é gratuita, pois há um projeto de desmonte da educação pública, com a finalidade clara de favorecimento da educação privada e inviabilização da pública".
Isso em 2007! E olha que na época, não existiam o famigerado FIES e a desgraça do PROUNI, que irriga com milhões de patacos à educação privada em detrimento à pública, que é deteriorada, precarizada, inviabilizada e que morre por inanição, em virtude por falta de recursos.
Achei, inicialmente exagerada a fala do Mestre, porém eu vivi o suficiente para testemunhar o tal desmonte da educação pública brasileira, e de dentro do processo, diga-se de passagem. Lembro-me que ainda na graduação, subindo a rampa do IL (Instituto de Linguagens), um colega, certa vez me disse: "vejo você subindo aqui para dar aulas".
Eu retruquei de pronto: deus-que-me-defenda-de-ser-funcionário-público. Minha fala foi um retrato fiel da percepção que todo brasileiro médio tem, do funcionalismo e do serviço públicos, exatamente como querem, e para isso se esforçam, os politiqueiros tupiniquilandeses. Nessa época, eu ainda não havia tomado a lição de Preto Velho, de que a língua é o chicote da bunda.
Hoje, testemunho com extrema tristeza, confesso, a morte lenta e cruel imposta à educação pública. Eu não vou ser hipócrita ou medíocre de passar pano para governo (qualquer que seja, pouco importando em qual espectro político esteja), como querem muitos colegas que fazem de conta que estamos bem, às mil maravilhas. Bom, considerar que o Fazendão vai maravilhosamente bem, é, para dizer no mínimo, passapanismo. Posso ser mais incisivo na minha análise e qualificar isso como deslealdade intelectual.
Basta dar um Google para ver que, em 2023, segundo o Valor Econômico, cerca de 2 milhões de empresas fecharam as portas na Tupiniquilândia, e, afirmar que isso não resulta do desastroso plano econômico do governo, é, no mínimo, fazer a egípcia para a realidade, uma brincadeira de faz-de-conta, cuja conta é cara e paga exatamente pelos mais pobres.
Isso mesmo, afinal de contas, taxam as blusinhas, taxam as carnes, transformam a picanha em pé de galinha, reduzem o Bolsa Família, aumentam o valor do combustível e a cada semana, lá se vai de preço novo em tudo que temos que comprar. Enquanto isso, os Batistas recebem as benesses do governo, cujo pagamento é feito às custas do trabalhador-pagador de impostos. E dos politiqueiros e juízes? A farra continua! Triste não é, amiguinho! Você que está aí atolado na trincheira da direita, deve estar urrando para mim agora: "faizuéle"! Mas deixo aqui para você, meu discreto sorriso sarcástico.
Espero que todos os que passarem deste ponto do texto, tenham no mínimo um neurônio a mais que o contra e o a favor. Se não tiver e você quiser ver o que tem no restante do texto, se esforce um pouquinho e crie um terceiro. É possível, e quando estiver pronto, você volte à leitura… então poderemos continuar nossa conversa!
Mas não é sobre isso que quero falar. Quero centrar minha atenção, numa das falas que aconteceram numa assembleia do sindicato ao qual pertenço, mas antes deixa eu dizer que, particularmente, acho que nossos sindicatos se tornaram antros de facções politiqueiras, das quais temos que tomar nossos sindicatos de volta.
Elas, as facções politiqueiras, sequestraram nossas causas e obtém, às custas da manutenção das nossas mazelas docentes, acumuladas durante anos e em todos os governos que antecederam o atual (2023-2027) e no atual, que mantém o status quo do descaso para com a educação pública.
Pois bem, disseram alguns colegas professores, que me representaram, convenho… nas minhas palavras-alheias, por isso não abro aspas, que a pá de cal na educação pública, não foi jogada por Bolsonaro e Paulo Guedes, como se esperava! O Lula está fazendo isso, ao ignorar uma de nossas reivindicações, que foi, exatamente, uma das duas pautas do nosso movimento grevista, a luta pela recomposição do orçamento das universidades. Lutávamos pela retirada da educação e da saúde do famigerado teto de gastos, porém sem sucesso.
E não, Senhor Augusto Nunes, nós não tiramos dias de férias extras. Se pudesse, trocaria contigo um dia de trabalho meu por um seu, assim você conheceria a realidade sofrida de um professor neste pocilga chamada Brasil, e eu me beneficiaria, de seu sapiente uso da língua portuguesa, e aprenderia um pouco mais. Assim, quem sabe, preencheria as lacunas que o ensino público me deixou, pois o meu direito a uma educação pública de qualidade, foi roubada pelos politiqueiros que infestam o Fazendão.
Voltando ao assunto anterior, se você caro leitor quiser saber do que estou falando, você não precisa acreditar nas minhas palavras, dê um Google no assunto "teto de gastos x arcabouço fiscal", se informe e tire a sua própria conclusão, como eu fiz, se você não tiver preguiça de pensar, é claro.
A pior escolha que se pode fazer na vida, é não pensar. Essa preguiça em si, é um compromisso tácito com a alienação e nada mais prejudicial para si e para o todo chamado sociedade, que a falta de compromisso com a reflexão pessoal, a partir, não do pensamento de massa, pois as massas ao longo da história, sempre estiveram erradas… vamos lembrar de Galileu Galilei que afirmava que a terra era uma forma esférica, e as massa disseram o contrário! O resultado é que a terra não mudou sua forma por isso, e continuou sendo assim e hoje temos provas científicas disso.
Voltando ao nosso assunto greve, até mesmo aquilo que se apresenta como proposta de atendimento à reivindicação de recomposição do plano de carreira e salários dos docentes, é resultado de uma sopa requentada, cuja receita vexatória foi preparada pelo Proifes, uma instituição sequestradora das causa docentes e altamente politicarizada, que definitivamente só representa os interesses de seus gestores.
O resultado da massaroca feita na tal sopa requentada e enfiada goela abaixo dos professores pelo Comando Geral de Greve, que assinou o acordo com o bilango arrumadinho, enfeitadinho e perfumadinho que ocupa atualmente o Planalto, sem que a proposta fosse amplamente discutida nas e pelas bases, não apresenta nada de novo, tampouco aumento salarial real. Só não saímos da greve com uma mão na frente e outra atrás, porquê o único e vergonhoso auxílio que recebemos, o de alimentação, saiu da casa dos R$ 400,00 para R$ 1.000,00.
É claro que não vou reclamar aqui. Isso é apenas constatação da realidade. Esse é um aspecto dela já superado por mim. Atualmente, estou com um projeto de escrever um texto para falar sobre o porquê não devemos reclamar do prato com arroz, feijão e ovos que temos, frente à uma mãe que revira o lixo para não deixar seus pequenos com fome. Aguardem o "Casa de papeizinhos, teto de papelão", que em breve divulgarei no meu blog.
Enfim, é muita coisa entalada na garganta para dizer, que se eu dissesse, chegaria a casa das 100 páginas e, com toda certeza moradora de mim, a antipatia de muitos leitores que iriam me denunciar por "desordem desinformacional", seja lá o que isso vem a ser. Como já me elevei um pouco, devo buscar trilhar o caminho do equilíbrio, nem tanto ao mar, nem tanto à terra.
Meu caro leitor, eu espero, sinceramente, que você não seja uma dessas pessoas que tem dois neurônios apenas e que pensam contra com um e a favor com o outro. Isso me levaria a te qualificar como um dos milhares joguetes au-au-balança-cabeça que infestam o Fazendão, utilizados a torto-e-à-direita para o custosíssimo faz-de-conta que penaliza nossa sofrida gente tupiquinilandeza. Poupe-me se for! Mas se chegou até aqui neste texto, é porquê não é, né?!
Pois bem, talvez você nunca tenha ouvido falar da Tetrakis pitagórica. Vou te apresentar, eis aí ao lado. Essa forma piramidal, que ao lado do quaternário sagrado, representa o todo do conhecimento, também pode evocar a ideia da superação das dualidades do mundo, para nossa elevação. Cada dualidade (oposição) da base superada, você sobe para o patamar seguinte, até ter maturidade para chegar ao topo e se tornar um com a unidade.
Diz a sabedoria do Tao Te Ching, que a realidade é a circunstância provisória dos opostos necessários. Então, tudo se torna realidade para a nossa consciência por meio do contraste. Se não existisse o preto e o branco, e tudo fosse somente branco, não existiria realidade em nossa consciência do próprio branco.
Assim, para vencermos as dualidades que geram o ritmo, ou seja, a compensação da oscilação entre as polaridades das coisas, precisamos superar as dualidades. Se para a minha consciência, existe a politiquice e suas duas extremidades - direita e esquerda, e eu escolho uma extremidade, quando o ritmo me levar para outra ponta, para sua compensação natural, por certo, irei sofrer.
Isso mesmo! E sabe por quê? Porquê é uma Lei Universal e nada e ninguém escapa dela. Você pode superar as dualidades da vida e se posicionar acima da sua zona de ação, ficar imune a ela, jamais. É por isso que as pessoas que falam que o atual governo vai harmonizar e pacificar a Tupiniquilândia, têm de mim um discreto sorriso de sarcasmo. Como ele vai fazer isso, se ele está enfiado até a próstata na dualidade politiqueira? É impossível que uma criança que ainda deseja um ursinho, consiga harmonizar duas outras crianças que brigam pela pelúcia, simples assim!
Para encerrar, penso que nós sociedade tupiniquilandeza, principalmente, nós professores, especialmente aqueles que se arrogam o topo da pirâmide da educação brasileira, temos que aprender uma importante lição: o machado não é árvore por ter cabo de madeira.
Isso mesmo, precisamos aprender que político, embora tenha saído do povo, se pareça com o povo e se diga povo, não é povo. De igual sorte, precisamos aprender que juiz não é juiz fazendo parte do Grupo dos Onze: se foi indicado, é ministro. Para ser juiz, é preciso passar num concurso, e ao que me consta, apenas um dos onze conseguiu essa façanha.
E agora finalizando, deixo-vos o ditado árabe que diz: "as árvores continuaram a votar no machado por que ele se dizia árvore e por ter cabo de madeira"!
Uma crônica de Cao Benassi
Comentários
Postar um comentário