PESAR, N. 20, AGO. 2025
PESAR, ANO 2, N. 20, AGO. 2025
Nos números anteriores da nossa série de textos filosóficos PESAR, discorremos sobre o tempo e como o ser humano, desde muito tempo, o desperdiça por falta de consciência e de autoconhecimento. Especificamente, no número 19, referente ao mês de junho, refletimos como a Internet e as redes sociais, de ferramentas que formam e informam, podem se tornar distrações que além de roubar nosso tempo, pode destruir nossa vida, seja por arrastar nossa consciência para baixo, seja por se tornar um vício de difícil percepção e combate.
No presente número, a nossa reflexão será voltada para uma debilidade muito conhecida por todos nós, quer por sermos alvos dela, quer pela prática, embora quem a pratica dificilmente a assume. Trata-se da fofoca, que em sua essência, brota de uma mente ociosa e, consequentemente, de uma curiosidade distorcida pelo banal. Ela se alimenta do vazio deixado pela falta de um propósito de vida mais elevado, preenchendo tal lacuna com narrativas sobre a vida alheia. A fofoca é um eco da insegurança, no qual a desqualificação do outro, ainda que ilusoriamente, parece elevar o próprio ego.
A origem da fofoca na maioria das vezes reside na necessidade humana de estabelecer uma conexão social, que, de uma forma desvirtuada, busca validação no compartilhamento de informações quase sempre sem fundamento na realidade. O ambiente onde a fofoca se prolifera é geralmente aquele no qual a virtude do silêncio é subestimada e substituída por uma necessidade de falar e pela busca por notoriedade, mesmo que efêmera, que na ausência de empatia, sobrepuja a discrição e o respeito.
A fofoca possui implicações que podem ser consideradas vastas e corrosivas. No geral, ela mina, corrói e desintegra a confiança, ao mesmo tempo que semeia a discórdia. Ela, a fofoca, envenena os relacionamentos e mancha reputações, além disso, cria um clima de desconfiança que resulta em desconforto generalizado. Em última análise, a fofoca é uma forma de violência bastante velada, que é capaz de ferir profundamente sem deixar marcas físicas.
Para combater a fofoca e sua propagação, o primeiro passo a ser dado pelo ser, é realizar um exercício de autoconsciência, e assim, reconhecer a própria inclinação para o julgamento e para a crítica. A debilidade da fofoca surge um certo burburinho interno cujo silenciamento é necessário. Esse tal burburinho sempre busca um novo alvo. Além de silenciá-lo, direcionar essa energia para a construção de pensamentos e ações mais nobres, também é necessário.
O desenvolvimento de interesses mais elevados, se torna uma excelente e eficaz estratégia de combate contra a fofoca e contra a sua proliferação. Quanto mais a mente estiver ocupada com o aprendizado, com a criatividade ou com a contemplação de ideias profundas, menos espaço haverá para a fofoca, para a intriga e para a banalidade. Ao se ocupar das virtudes e das ideias elevadas, naturalmente, o foco antes direcionado para a debilidade, se desloca é se direciona para aquilo que realmente importa.
Manter o foco nas virtudes e desenvolver interesse por ideias elevadas, são antídotos poderosos contra o veneno da fofoca debilidade que envenena a alma humana, que fomenta a intriga e com isso, produz o sofrimento. Cultivar a compaixão, a empatia, a discrição e a benevolência nos afasta da tentação de julgar e espalhar boatos. Essas últimas atividades não são, de forma alguma, fator de soma para o ser humano, pois destrói, não só seus alvos, mas também quem as produz e as propaga. já o cultivo das virtudes, é um caminho para a construção de um caráter sólido e inabalável.
A elevação do espírito por meio do autoconhecimento, da busca por conhecimento, da apreciação da arte ou da dedicação a causas maiores, é uma maneira de desviar a atenção daquilo que é superficial, vago, banal. Ao nutrir a alma com conteúdos que engrandecem, a fofoca naturalmente se torna irrelevante, e com isso, perde seu poder de sedução. Uma mente superior, que se dedica ao que realmente importa na vida, jamais se dá ao desfrute da fofoca e jamais se deleita em suas consequências.
A superação da fofoca implica uma transformação interna, na qual a energia que antes era canalizada para o trivial, para o superficial e para o banal, é redirecionada para aquilo que realmente é significativo. Ao focar nas virtudes e em interesses elevados, um ambiente mais saudável é construído, tanto para nós quanto para aqueles que nos cercam, colocando a convivência humana num patamar mais elevado, algo que deve ser por nós desejado, pois o maior propósito da vida, é buscar a unidade.
Para encerrar esse nosso número, é importante frisar que o desenvolvimento de bons interesses e a manutenção do foco neles, não é uma tarefa tão fácil. Ao se conscientizar que a debilidade da fofoca ou qualquer outra, está presente em nós, reconhecer a necessidade de mudar, aceitar e buscar a mudança, é o primeiro passo a ser dado. Porém o mais importante é se manter no caminho, ainda que sejamos provados ao longo da caminhada, pois os frutos do cultivo das virtudes é a sabedoria que resulta numa vida mais consciente, feliz e plena.
Um texto de Cao Benassi
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