PESAR, JULHO DE 2025

 PESAR, ANO 2, N. 19, JUL. 2025

Estamos no sétimo mês do ano de dois mil e vinte e cinco e esse, já é o décimo nono número da série de textos filosóficos PESAR. Como todos já sabem, nosso tema é foco e interesse, que são, basicamente, o ponto para o qual converge nossa atenção e o estado de espírito que se tem para com aquilo que se acha digno de atenção. No nosso número anterior, discorremos sobre o perigo de se desperdiçar o tempo de vida que temos. Parece não ser tão importante, mas um único dia vivido sem propósito, na economia da vida, jamais poderá ser recuperado. 

Como foi afirmado no número 18 da série PESAR, a expectativa de vida do brasileiro, é em média, setenta e seis anos. Convertendo esse total para dias, nós teríamos aproximadamente, um total de vinte e sete mil, setecentos e quarenta dias. Com base nisso, peço a você, querido leitor, que faça o seguinte exercício de imaginação: substitua os dias da expectativa de vida do brasileiro pela nossa moeda. Imagine que você tem vinte e sete mil, setecentos e quarenta Reais, você desperdiçaria um único centavo desse dinheiro?

Em dias em que a informação circula na velocidade da luz, em que todo e qualquer tipo de conteúdo está na palma da mão e a um toque da ponta do dedo indicador de distância, como conseguir manter o foco e, principalmente, desenvolver interesse por algo que seja fator de soma, quando tudo parece ser distração. Aí está o ponto nevrálgico dessa questão. A distração nos gera uma terrível dispersão que nos faz adoecer de um mal que nos animaliza e nos torna predadores de nós mesmos. 

A afirmação contida no parágrafo anterior, tem tudo a ver com a Internet e com os conteúdos que nela e por ela circulam. Contudo, ela não é o problema. É imaturo, errado e infantil pressupor que estar fora do digital e do ciberespaço, nos faz imune às distrações da vida e as dispersões que elas geram em nós. A crença da crença fará com que nós substituamos um sistema por outro, ou seja, que nós deixemos de perder o nosso tempo com as futilidades do mundo virtual e passemos a perder com outras de um outro tipo qualquer, pois o problema não é o meio, mas a nossa falta de foco e de interesse conscientemente delimitados. 

A Internet pode ser uma ferramenta poderosa para o nosso desenvolvimento interior e consequente crescimento como ser humano. Basta apenas que nós desenvolvamos interesse por coisas elevadas. Em qualquer rede social ou plataforma de multimídias, por exemplo, há conteúdos de baixíssima qualidade e conteúdos de excelência. Não importa o meio, importa é que nós delimitemos o nosso foco. O algoritmo da plataforma certamente entenderá qual é o caráter do conteúdo que consumimos e assim, nos ajudará a manter o foco, pois, automaticamente, encaminhará mais do mesmo conteúdo para a nossa fruição. 

Se utilizarmos as redes sociais apenas para fugirmos da realidade e de nós mesmos, mergulhando num mundo de conteúdos aleatórios e de baixa qualidade, cuja realidade é distorcida pela pequenez moral, intelectual e espiritual de quem o produz, certamente, estaremos desperdiçando o precioso tempo da nossa vida, que certamente nos manterá medíocres frente às vicissitudes da vida. Crescer em virtudes, valores e sabedoria é uma escolha; se manter no lamaçal da ignorância, também o é. 

Imagine se ao invés de utilizar a rede social para assistir vídeos aleatórios de conteúdos claramente contrários aos seus valores, tal como conteúdo de uma religião que não professa a mesma fé que a sua, e você comentar impondo autoritariamente os seus valores sobre os do outro, como se esse outro não tivesse o direito de ali estar, você direcionasse o seu tempo e a sua energia para aprender mais como ser tolerante, empático e respeitoso com o diferente, o quanto você cresceria em humanidade em um ano? E ao longo de toda a sua vida?

Se você mergulhar nas distrações da vida que circulam na e pela Internet, e ficar disperso nelas, colocando, e com isso, desenvolvendo um interesse doentio pelo dissonante e mantendo aí o seu foco, fazendo comentários intolerantes, racistas, homofóbicos, xenófobos, misóginos, e entre outros, ao final da sua vida, será que você conseguirá justificar a sua existência? Ou será que ao olhar para tudo o que fez, você se envergonhará do ser animalizado que construiu? A presença da morte, com toda certeza, não te deixará passar impune.       

Querido leitor, te convido neste exato momento, a fazer uma pausa, ainda que breve em sua leitura, para analisar a sua consciência em relação a tudo que foi dito nessas simples linhas, até o presente momento. Se porventura, você se encaixar no que foi descrito nos parágrafos anteriores, eu sugiro que você se conscientize que é necessário mudar. A vida humana é um sopro, e por tudo o que aqui nos é dado, um preço nos é cobrado. No último suspiro, qual será o legado que você deixará?

Não se trata aqui de afirmar que o preço já foi pago pela excruciante morte de um salvador qualquer, nada e ninguém poderá ser ponte para você entre a vida material e a vida espiritual, se você não desenvolver com plenitude, a essência humana. Não gosta da doutrina diferente, não seja dela, mas não queira tirar do outro o direito sagrado de escolhê-la; não gosta de homossexuais, não se case com um, contudo que os respeite e não lhes tire o direito de viver. Enfim, você nasceu humano, deseje morrer ser humano, e não, animal. A vida lhe dá, a morte lhe tira; não perca isso de sua mente.


Um texto produzido por Cao Benassi


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