EDUCAÇÃO É AMOR
Quando Shinishi Suzuki assim qualificou a educação, mais que uma definição para o seu método de ensino de música, ele estava trazendo ao mundo manifestado, uma verdade, uma ideia, um arquétipo captado no mundo sutil, para lembrar Platão.
Segundo o grande filósofo greco-ateniense, existem dois mundos: um das formas e outro das ideias, dos arquétipos, logo, da perfeição. Ao homem, cabe o papel de se tornar uma espécie de canal, para que essas ideias desçam e se manifestem no plano material.
Quando o homem se eleva e consegue se tornar um excelente pontífice, ou seja, quando ele se torna um canal verdadeiramente transparente, pelo qual a luz do arquétipo passa sem distorções, então o resultado é uma forma/pensamento ou uma forma/matéria quase ou perfeita.
No entanto, quando o homem não se torna transparente o suficiente, a luz da ideia captada chega ao plano material distorcida. Essas distorções acontecem por causa da corrupção, do desejo ou do medo.
Embora eu não vá aqui entrar em detalhes sobre isso, vale dizer que um exemplo dessas distorções, se deu, por exemplo, na posse da Magnífica Reitora da Universidade Federal de Mato Grosso, que aconteceu recentemente.
Para contrapor a beleza do evento, ao carisma e a grandeza dela, tivemos, já que tudo na vida é dual, ou seja, tem dois lados, infames politiqueiros com seus discursos ensaboados, exaltando a prosperidade de uma universidade, que na realidade, está caindo aos pedaços.
Pelo menos aos meus ouvidos, as platitudes e a blateração mentirosa soaram como um verdadeiro estrupo: ai que asco! Confesso que tive vontade de me levantar, colocar meu dedo para a cara (...) do tal "padilha" de brasília (assim mesmo, em caixa baixa), e gritar: "isso é mentira… a universidade está morrendo!" Mas me contive!
Já pensou nas manchetes no dia seguinte: professor grita com ministro e é preso por "fake news", seja lá o que isso queira dizer. Pessoas: no meu português, que não é dos bons, a manchete seria assim, mas se depender do português dos jornalistas, ultimamente… tenho até receio em imaginar!
Voltando à questão anterior… a da "educação é amor", eu dizia que Shinishi Suzuki foi um canal transparente pelo qual passou uma ideia, uma verdade, um dos arquétipos, tanto da educação quanto do amor.
Educar vem da palavra "eduzir", que significa tirar de dentro, trazer para fora. Neste sentido, educar é trazer o que há de mais elevado dentro do ser humano para fora, e o amor pode significar, ao menos para nós filósofos e aprendizes, unir.
Se pensarmos no princípio postulado por Shinishi Suzuki, podemos então dizer que educar é trazer o amor, a união do nosso interior para o exterior que nos cerca. Aos que educam, a função é fazer com que o outro seja capaz de realizar essa tarefa.
Assim, um professor, de profissão ou de coração, com base em sua própria experiência de realizar a tarefa de trazer o amor, a união para seu exterior, vive a oportunizar aos seus irmãos de manifestação, as ferramentas para isso, sendo assim, um modelo.
Longe da realidade dos politiqueiros asquerosos, nossa realidade como professores (profissionais do educar, do trazer o amor para fora), é bem preocupante: infraestrutura precária, salas de aula superlotadas, alunos cada vez mais embrutecidos… descaso político-administrativo, enfim, a conjuntura que enfrentamos, é desanimadora.
Às vezes, somos levados a pensar em rotas alternativas para garantir o nosso sustento, sem que tenhamos que adoecer com a precarização que enfrentamos. O problema é que, na maioria das vezes, não nos resta outra alternativa, a não ser entrar em sala e servir.
Mas, pelo menos para mim, ainda encontro quatro pontos de apoio fundamentais: relatos carinhosos de alunos que tiveram seu despertar a partir do meu; família (amigos e familiares que são bastiões que dão suporte para que eu siga em frente); filosofia (sem a qual eu não estaria aqui, certamente), e; pesquisas como a da Vanessa Alves, orientada por minha querida amiga Sebastiana Souza.
Fui convidado pela Professora Sebastiana para compor a banca de avaliação da qualificação da pesquisa de mestrado da Vanessa e é óbvio que aceitei de primeira. Quando li a pesquisa, tive a certeza que estava diante de um grande trabalho.
A pesquisa que versa sobre educação inclusiva, apesar de apresentar alguns problemas (algo comum em todo e qualquer trabalho acadêmico), se mostrava um trabalho de vulto.
A pesquisa foi aprovada e qualificada para a defesa. Os dias de ajustes passaram e chegou o esperado dia da defesa. Como todo atarefado professor, só tive tempo para estudar o trabalho, quatro dias antes da defesa, durante às noites.
Vanessa e sua orientadora se esmeraram nos ajustes do trabalho, indicado pela banca: um primor! Que lindeza de trabalho! Olha, isso não é rasgação de seda, e se fosse, seria mais que merecido rasgar seda para uma pesquisa brilhante!
A defesa transcorreu dentro dos padrões de normalidade. Porém, teve um momento que foi arrebatador para mim: eu testemunhei Vanessa sendo um canal e vi uma ideia chegar ao mundo.
Num dado momento, ela disse: "não deve haver educação inclusiva e educação regular, pois educação é uma só, e é para todos!" No exato momento que ouço isso, eu tenho a certeza de que uma ideia veio à luz!
De fato, só existe educação! Se Shinishi Suzuki está correto e educação é amor, não deve haver separação. O amor une, o amor conduz a unidade, então por que temos que pensar uma educação inclusiva e uma educação regular?
Do ponto de vista filosófico, para mim, isso não faz nenhum sentido. Educar é trazer para fora o amor, educar é amar, amar é unir: por que separamos e ainda teorizamos sobre a separação?
A sabedoria tibetana diz que o mal do homem é a heresia da separatividade, o egoísmo. Separar não condiz com educar. Concordo que determinados alunos necessitam de atenção especial no processo educacional, mas Vanessa… você tem toda razão: não podemos separar, fragmentar, desagregar a educação.
Para agregar o meu valor à máxima trazida à luz pela querida Vanessa, deixo a síntese que fiz a partir dessa vivência: se a educação for para todos, todos crescerão em humanidade e não será necessária nenhuma intervenção de conscientização da sociedade posteriormente, pois todos aprenderão juntos os valores relacionados à inclusão!
A vocês, Vanessa e Sebastiana, minha gratidão pelo aprendizado que me oportunizaram!
Uma crônica de Cao Benassi
Comentários
Postar um comentário