Desde a primeira vez, que o Yawô de Lufã foi ao terreiro, eu já sabia que ele traria tempos de renovação, grandes provações e vitórias nas mesmas proporções.
Mas a maior supresa para todos no barracão, não seria o fato de que ele iria bolonar na primeira vez que pisou na roça.
O interessante, é que a Madrinha Bitá, a Ebame de Lufã, há muito tempo não virava mais, devido aos graves problemas articulares.
Neste dia, o Santo baixou, não só baixou, como dançou o seu xirê completo. Detalhe: na exata hora em que o Santo virou em Madrinha Bitá, o Yawô de Lufã bolonou.
Meses depois, apesar de simples, dada as condições financeiras do Dofono do Oxalá, a roda da sua saída foi algo tão grandioso, em termos de axé, que dificilmente alguém do ilê irá se esquecer desse dia.
A partir da sua iniciação, o dedicado Yawô ia periodicamente à roça, a fim de cumprir suas obrigações para com o seu Santo, e também estava sempre presente nas festividades e demais afazeres do terreiro.
Muitas coisas aconteceram até o Odu Etá do Dofono do Oxalá. A casa encheu de consulentes, aumentou o número de filhos, como também aumentaram os problemas e as rugas de preocupação, no rosto de Mãezinha de Odé.
No entanto, mesmo as brigas das filhas de Yemanjá e de Oyá, mesmo o arranca rabo da Ekedy de Oyá com o Ogã Alabê e outras quisilas da casa, nada se compararia ao que aconteceu no ano que o Yawô de Lufã tomou sua obrigação de três anos.
Com o passar do tempo, aquilo foi ficando rotineiro. O agora Ebome de Lufã já de posse do seu Deká, relembrava o acontecido que mudou a rotina do terreiro... ao menos nas ocasiões das festividades do Senhor do Bonfim.
- Já faz alguns anos que aquilo se repete.
Lembrou o Ebomi de Lufã. A primeira vez que aconteceu, Mãezinha de Odé não acreditou. Na verdade, ninguém no terreiro acreditou. Até mesmo para o abian menos experiente, aquela cena era até então, impensada.
Todos ficaram boquiabertos: aquilo nunca tinha acontecido antes! Mãezinha de Odé olhou o Yawô de Lufã, que se sentara no chão, praticamente aos seus pés, em silêncio. Todos retornaram para dentro da cozinha atordoados.
Os dias se seguiram e ninguém ousava tocar no acontecido, uma vez que, Mãezinha de Odé, descrente e sem saber o que fazer, simplesmente, se calara.
No ano seguinte, embora eu soubesse que o acontecido iria se repetir, todos ficaram atônitos quando, no dia do Senhor do Bonfim, o acontecido se repetiu.
Era ainda manhã e Mãezinha de Odé tinha acabado de tirar Exú, os filhos ainda nem tinha lavado aos alguidares, quando o mesmo grupo apareceu na porteira da roça: tudo se repetiu, exatamente igual.
Com a repetição, nos anos que sucederam ao acontecido, a roça inteira foi se acostumando.. Mãezinha de Odé, apesar de, sabidamente, não apreciar aquelas intervenções, sempre foi "simpática" com os "visitantes".
Passado o tempo, não tinha uma viva'lma no terreiro... e nem morta, que já não estava acostumada, a depois da tirada de Exú, no dia do Senhor do Bonfim, a ir para a porteira da roça, ver o acontecido se repetir.
De tanto se repetir, o acontecido acabou ficando meio que tradicional. Mas de fato... aquilo era chato demais!
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