PESAR, ANO 1, N. 5, MAI. 2024
Ano 1, n. 5, mai. 2024
Maio é o quinto mês do ano e tem trinta e um dias. Segundo nossas consultas, a origem da palavra maio é do latim maius). Este mês foi assim nomeado em homenagem à Deusa grega Maya, mãe de Hermes, o mensageiro. Na mitologia romana, Maya é sincretizada com Bona Dea, Deusa da fertilidade, festejada em maio.
Vale ainda lembrar que maio, segundo algumas informações, é o tempo das flores, logo, da primavera. Seria então um tempo repleto de flores, um tempo primaveril, também considerado, um tempo de prazeres.
Maio, mês das flores, dos prazeres, da homenagem a Deusa Maya e de maya, que segundo Sri Sathya Sai, é a ilusão, a causa das múltiplas formas, o mundo das encenações, da fantasia. Neste sentido, esse mundo objetivo assume várias formas pela manipulação de maya, que nada mais é que o desejo que ilude. Porém é no mês de maio que celebramos a flor da lótus branca.
Em fevereiro de 1891, teve início uma nova onda da gripe russa, que atingiu também a grande filósofa Helena Petrovna Blavatsky (HPB). Em 8 de maio do mesmo ano, às 14 horas e 25 minutos, HPB faleceu tranquilamente, rodeada por seus amigos.
Em virtude da grande influência dela na filosofia clássica do ocidente, apesar das polêmicas que a cercou nos últimos anos de sua vida, HPB se tornou um grande marco no pensamento esotérico ocidental. H.P.B se tornou, para nós buscadores, uma grande mestra. Seus ensinamentos são para nós tão importantes, que o mês de maio, mês de sua morte (ocasionada por uma combinação de gripe e nefrite), se tornou o mês dedicado à flor de lótus branca, a flor que representa a pureza. Além disso, maio é também o mês dedicado aos mestres e aos discípulos.
Antes de falarmos um pouquinho sobre a relação de mestres e discípulos, convém falarmos desse símbolo, de vital importância para nós, buscadores da verdade. A lotus (nymphaea lotus), é uma espécie aquática que, normalmente, cresce em ambiente de água pútrida, sem se contaminar com ela.
Mesmo crescendo num ambiente no qual a contaminação seria algo certeiro, a lotus se eleva acima da água pútrida se posicionando de forma que ao lançar seu pendão floral, e por conseguinte, sua flor, exibe toda a exuberância de sua beleza e pureza. Pelo que já foi dito sobre a lotus e sobre sua flor, já dá para entender o porquê ela se torna esse símbolo tão importante para nós, buscadores da verdade. Assim como a flor de lótus não se deixa influenciar pelo meio, assim também nós não podemos deixar que aquilo que é externo ao nosso centro, ao nosso eu verdadeiro, nos roube de nós mesmos.
A própria HPB nos ensinou a jamais trairmos aquilo que somos em essência, ou seja, trairmos o nosso centro de valores, em virtude daquilo que nos rodeia. Disse a mestra “[...] nunca permitas violar teus princípios por força de tuas companhias.[1]” Logo, não devemos permitir que aquilo que nos rodeia venha nos influenciar, venha fazer com que traiamos os nossos valores. Tal como a lotus, devemos crescer no meio, mas não ser como o meio. Assim diz as escrituras, “estar no mundo, mas não ser do mundo”.
Falando da mestra H.P.B., como entender a relação mestre/discípulo que podemos ter com ela ou com outros mestres em nossos dias, que aliás, não são propícios para o desenvolvimento de uma vida, na qual a essência humana seja desenvolvida e expressa plenamente.
Essa questão, apesar de parecer simples, é muito mais complexa do que pensamos ser. Se na época de grandes filósofos, como Marco Aurélio, por exemplo, os romanos reclamavam de não terem tempo, imagine nos nossos dias, em que tudo é ilusão e circula tão rapidamente quanto a luz e é quase tão acessível quanto a própria luz.
Ao olharmos para a história, especialmente a oriental, temos maior facilidade para entender como se estabelecia a relação entre mestre e discípulo. No ocidente, consta que a forma como os pitagóricos se portavam era tão elevada, que eles eram reconhecidos por onde passavam. Na escola de Platão, havia muitas provas que demonstravam o qual preparado para o discipulado, o aspirante estava. Acreditava-se, inclusive o próprio Platão afirmou que melhor seria um humano completamente ignorante que o conhecimento em mãos despreparadas.
O Caibalion diz que quando os ouvidos estão preparados para o conhecimento, surgem os lábios do mestre para enchê-los com o conhecimento. Neste sentido, podemos dizer que o buscador desperto tem os seus ouvidos preparados para o conhecimento.
Temos três centros de consciência, sendo eles: o superior – situado no cérebro, o intermediário – situado no coração e o base – situado no fígado. Os primeiros sintomas do despertar são expressos exatamente por meio do centro consciencial intermediário, o coração. É ele que nos faz sentir a necessidade de buscar a nossa verdadeira essência.
Porém, em nossos dias, como reconhecer esses sintomas? Como perceber que nossos ouvidos estão prontos para o conhecimento? E, principalmente, como reconhecer o nosso mestre? Como reconhecer aquele que nos conduzirá em nossa jornada rumo ao conhecimento?
Talvez, seja muito difícil responder esses questionamentos, pois cada indivíduo os experimentará de forma particular, no entanto, é possível esboçar respostas genéricas, tais como, o desejo de responder a questões existenciais, como por exemplo, quem realmente sou, um dos sinais que demonstram o despertar para a necessidade dessa busca.
Quiçá, essa questão seja acompanhada por um esgotamento da existência como realização da vida ou de um senso de não pertencimento ou de menos valia, causados pela sensação de não ajuste ao tempo e ao espaço no qual se vive.
A frase “O homem nada sabe, mas é chamado a conhecer”, atribuída ao grande sábio Hermes Trismegistus, nos dá uma noção disso que afirmamos anteriormente. Apesar da mente, por meio da resistência, nos manter cegos na vida ilusória, dentro de nós há uma centelha que, mesmo em latência, clamará pelo conhecimento.
Por isso, o coração é o primeiro centro no qual a consciência se alojará para que o indivíduo comece de fato a buscar a verdade. A nossa mente concreta que atua sob forte influência do desejo, agirá para nos manter no mundo de maya, na ilusão. Essa atuação pode ser compreendida como sendo a resistência (a má resistência). A mente criará uma espécie de jogo de ilusão, para distrair o indivíduo que está despertando.
Argumentos de diversas ordens serão utilizados para que ele fique preso em seu mergulho consciencial, por isso é importante que todo e qualquer indivíduo que desperte, tenha orientação adequada.
Entre o despertar e a efetivação da busca, diversas provas acontecerão com o objetivo de testar o nível de comprometimento do buscador. Quanto mais comprometido, mais provado será o indivíduo, por isso usamos o termo “discípulo em provação” para aqueles que despertaram e se comprometeram com a busca da verdade.
No estágio no qual o buscador se reconhece como provado e aprovado, é que seus ouvidos se tornarão aptos para o conhecimento. É também nele que o mestre surgirá. Podemos então dizer que o que provoca o surgimento de um mestre, é o nascimento de um discípulo.
Temos grande dificuldade em reconhecer os mestres em nosso tempo. Todos aqueles que nos antecederam, nossos pais, tios, avós, professores e uma infinidade de pessoas que direta ou indiretamente interferem na nossa vida diariamente, são nossos mestres, os pequenos mestres. Não somente esses, mas toda a criação.
Estamos tão cegos pelos jogos de maya, pela ilusão da vida cotidiana, que nos sentimos sós, separados de toda a criação, ao ponto de não percebemos que tudo o que nos cerca, ali está por uma razão. Não haveria motivo para não estar, se não fosse para nos ensinar.
No entanto, quando se trata de um mestre, sempre esperamos que alguém que já tenha unidos os três centros de consciência e, consequentemente, que já tenha feito a nova consciência surgir, apareça diante dos nossos olhos, nos tome pelas mãos e nos diga “sou eu, siga-me”!
É óbvio que necessitaremos sempre de um iniciado para nos iniciarmos, no entanto, o caminho é feito ao caminhar, e esse iniciado só surgirá a partir do momento que nossa consciência mergulhar no coração, desvelando a necessidade e implementando a busca pela verdade, para então subir e ter pequenos vislumbres da vida e do ser real.
Nessa subida ao centro superior de nossa consciência, a preparação para o conhecimento poderá ser sentida. Daí é que perceberemos os vestígios do mestre. Quando isso acontecer, estaremos preparados e nossos ouvidos se abrirão completamente para receber os seus Ensinamentos.
Será necessário, a partir daí, fazer nossa consciência descer ao centro básico, para conhecer todo o funcionamento do nosso eu mais denso. Ao conhecê-lo e dominá-lo, estaremos prontos para que a consciência suba ao nosso centro mais sutil, alinhando base, meio e alto, constituindo a nova consciência, tão essencial para o nascimento do novo ser.
Mesmo tendo em todo esse processo o auxílio de muitos mestres (pequenos e grandes), tanto aqueles que nos antecederam na senda, como HPB, como aqueles que silenciosamente, caminham ao nosso lado, mantendo acessa a chama do conhecimento, o nosso maior e mais importante mestre é o nosso coração.
Ele é que será o centro a partir do qual o ser despertará, além de ser também, o centro para o qual a consciência sempre retornará no processo de descida – para conhecer e dominar a densidade, e de subida – para vislumbrar a sutilidade, até que todos os centros sejam alinhados e a nova consciência possa de fato surgir e criar o novo ser.
Para finalizar, é importante dizer que para ouvirmos a voz desse nosso mestre, é necessário silenciar as vozes da mente e fazer cair os véus de maya. Se realizar com a existência, com a vida ilusória é recusar o chamado do verdadeiro mestre para o conhecimento.
Por Cao Benassi
[1] Ocultismo prático, 2021, pg. 13.
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